O resultado é um disco que surpreende pela originalidade dos arranjos, sonoridade “quente”, conduzido em todas as 12 faixas pelo violão ovation de Bob Cupini, ora tecendo belas harmonias e levadas diversas, ora dialogando com baixo, piano, bateria, um arrojado quarteto de saxs , cordas delicadas e sutis, e expondo os temas com sua maneira característica.
Bob Cupini, que também assina a produção e direção musical. Antes, ele lançou “Asas”, um CD marcado pela presença da bossa nova e do samba, bastante elogiado pela crítica e muito bem recebido nos shows de lançamento no circuito paulistano. Assim como “Asas”, que teve sua primeira tiragem
rapidamente esgotada, “Caminhos” também é uma produção independente. Nasceu do desejo do compositor de resgatar um pouco da obra de grandes mestres brasileiros.
De Ataulpho Alves e Mário Lago, mostra o clássico “Ai que Saudades da Amélia”, samba antigo, em arranjo moderno de traços jazzísticos, e o piano de Nelson Ayres em perfeito diálogo com o ovation. Também de Ataulpho, gravou a emotiva “Meus Tempos de Criança”, num clima de “morro antigo”, como comenta o próprio Bob, trazendo saudades dos velhos tempos.
De Monsueto, relembra “Me Deixa em Paz”, em que se destaca o arranjo que valoriza a alta densidade emocional da música. E Bororó comparece com “Da Cor do Pecado”, que ganhou um “clima caliente”, e acento espanhol, como define Bob.
Já Adoniran Barbosa é homenageado com arranjo inovador de “Trem das Onze”, momento em que o ovation “conversa” com o violão de sete cordas de Swami Jr., tocado direto na gravação. “O que sempre busco e confirmei nesses ‘Caminhos’ é a certeza de que mais importante é a vibração, a empatia, o suingue”, afirma o arranjador. “Gosto de passar esses sentimentos para os músicos e para o público”.
Admirador de Tom Jobim, compositor que já havia gravado no primeiro CD, Bob apresenta mais uma vez sua leitura original de obras do maestro, em dose dupla, com “Felicidade” e “Caminhos Cruzados”. Para ele, “Jobim sempre foi o norte”. Tanto assim, que em algumas de suas composições são claras as referências ao maestro.
De sua própria lavra, Bob Cupini gravou a bela composição “Azul Turquesa”, com referências eruditas e “jobinianas”, em movimentos iniciais de oboé e clarinete que conduzem à contemplação de um horizonte azul, evocado pela música. Também de sua autoria, a valsa “Bate-papo”, que se transforma em samba-jazz, seguindo a proposta, como ele faz questão de frisar, de uma “conversa entre músicos para deleite dos ouvintes”. A música nasceu pronta, rapidamente, como lembra Bob.
Outro mestre que abrilhanta o repertório do álbum é João Donato, de quem Bob gravou “Amazonas”, transformada em uma elegante salsa, executada com todo o balanço que o ritmo evoca.
Completando o repertório, dois standards “estrangeiros” – “Sunny” e “Estate”. A primeira faz parte do repertório dos shows e sempre sacode a platéia e a segunda, Bob considera “um primor de melodia”, além de reportar as suas origens italianas.
A bela capa, ilustrada por Neco Stickel, que também assinou a do anterior “Asas”, mostra a suavidade dos “Caminhos”, trilhas percorridas ao longo de uma trajetória musical, marcada pela alegria de compartilhar acordes, harmonias e canções dedilhadas no inseparável ovation, instrumento que o acompanha desde 86, em performances cheias de energia e calor, sempre em busca da “simplicidade misturada com a ousadia”. Não à toa, o encarte traz uma foto antiga, dos anos 60, de Bob Cupini e Nelson Ayres no começo da carreira.
A liberdade que ele valoriza em sua música pode ser apreciada de forma ampla no novo CD “Caminhos” que chega depois de oito anos da produção do belo vôo de “Asas”.