terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Música ou barulho?

Terça-feira, 11 de janeiro de 2011 08:47 am


O ruído pode ser medido em decibéis, mas, no fundo, é um conceito relativo e subjetivo. O que é música aos ouvidos de uns, pode ser um barulho ensurdecedor para outros. O canto de um pássaro de manhã, bem cedo, pode embalar o início de dia de quem está saindo para o trabalho, mas é capaz de incomodar muito alguém que dormiu mal a noite inteira ou que foi para a cama já bem tarde.
Da mesma forma, os possantes alto falantes instalados em porta-malas de automóveis encantam seus proprietários, mas desagradam a quem está no trajeto do veículo ou nas proximidades da barulheira. A algazarra de crianças no pátio de uma escola é capaz de provocar um sorriso em quem passa, mas dá conta também de tirar o sorriso raro de quem anda de mal com a vida.
Vizinhos que gostam de festa são, possivelmente, pessoas alegres, cheias de vida e dispostas a comemorar grandes e pequenos fatos. Mas, vizinhos que gostam de festa com música de mau gosto (e esse é outro conceito relativo e subjetivo) no último volume tiram do sério os que, mesmo sem estar de mal com a vida, prefeririam curtir uma boa noite de sono ou manter a possibilidade de conversar em tom baixo, sem precisar gritar para seu ouvido dentro da própria casa. E a festa só é boa para quem é convidado.
Ser despertado pelo ruído de uma betoneira durante os longos meses de uma obra é quase desesperador. Mas o barulho infernal da máquina é música para o engenheiro que quer ver as paredes subirem e o prédio ficar pronto. Para o serralheiro, a serra e a lixadeira funcionando ao máximo significam faturamento garantido; já para os vizinhos da serralheria...
Tudo tem quem gosta, tudo tem quem não gosta. Sendo assim, fica fácil entender a dificuldade da autoridade municipal para controlar o nível de ruídos na cidade. Ainda mais que, quase sempre, as prefeituras sentem a falta de estrutura e de pessoal qualificado para atender aos chamados dos que se sentem incomodados e impotentes diante da barulhada que vem de perto.
Quando é um barulho extemporâneo, como o caso de vizinho que resolve usar a furadeira nas primeiras horas da manhã de sábado, ou da festa de aniversário que não termina antes das primeiras horas da mesma manhã, a irritação é passageira e o sono perdido pode até ser recuperado na noite seguinte. Dá para entender, relevar e não reagir de forma barulhenta. Melhor manter o silêncio da tolerância em nome da boa convivência.
O problema é grave quando o barulho é todo dia e toda hora. Como não dá para escolher vizinho, às vezes é preciso fazer valer a máxima de que o incomodado se retira. Ou se cala. Porque, esperar que a meia dúzia de fiscais destacados para atuar na Regional Centro Sul vai fazer valer a lei do silêncio é mais ou menos o mesmo que acreditar em Papai Noel. Ou esperar que o bom senso prevaleça e que todos respeitem o direito do outro de dormir em paz e sonhar com os anjos.
Por mais que os fiscais sejam abnegados servidores públicos, não é de estranhar que montes de cidadãos fiquem sem resposta quando acionam a prefeitura e clamam por silêncio. É bom ter um bar próximo de casa, onde dá para tomar uma cervejinha, bater um papo e retornar caminhando, sem agredir a lei seca. Mas o boteco não pode ser perto demais. Então, qual a distância ideal? No que se refere a barulho, uma que possa ser medida em decibéis e não em metros.
(Texto publicado no Estado de Minas de 08/11/2010)
    

O teatro mágico, é verdadeiramente mágico.

Depois de seis anos de trabalho, mais de 190 mil CDs vendidos e o DVD chegando a 40 mil cópias, a trupe festeja, sem perder de vista o projeto do terceiro ato.
Comemoramos o alcance da marca de 1 milhão de downloads feitos e mais de 5 milhões de transmissões de músicas do primeiro e segundo CD, nos sites Trama Virtual e Palco MP3. Ainda, no top 100 da Trama Virtual, o Teatro Mágico tem 39 músicas entre as 50 primeiras, reforçando que ‘a poesia prevalece’.
Fazendo uma retrospectiva do ano de 2009, Anitelli relembra um dos fatos marcantes na trajetória do Teatro Mágico: “Em agosto, cerca de 400 internautas acompanharam a gravação da primeira versão da música “O que se perde enquanto os olhos piscam”, feita totalmente ao vivo pela rede. Essa canção, composta interativamente com os internautas, foi disponibilizada no site e já é uma das mais baixadas, evidenciando que o que é feito com colaboração aumenta as possibilidades de quebrar barreiras”.
Por isso, o TM é destaque nos principais veículos de comunicação da Internet, e a trupe se prepara para lançar seu segundo DVD intitulado “O Segundo Ato”, com participações de nomes como GOG e Silvério Pessoa, no mesmo palco. As gravações aconteceram em junho de 2009, numa maratona de 18 shows em apenas uma semana.
“Longe da crítica, perto do público”, assim relatou o jornal “Folha de São Paulo” referindo-se ao álbum “O Segundo Ato”  elegendo, através de seus leitores, a Cia. Musical e Circense como o melhor show da atualidade no Brasil. É desta forma, a partir da grande participação do público em sites de relacionamentos como orkut, youtube e outras mídias da rede, que se inicia o processo de “viralizar sem pagar jabá”.
A trupe criada por Fernando Anitelli, já projeta a criação da terceira etapa, buscando aprofundar ainda mais os dabates que cercam a sociedade desigual e desumana que nos rodeia. Procurando explorar a questão do livre compartilhamento das músicas na Internet defendendo a bandeira da musica livre, o Teatro Mágico passa, cada vez mais, a se apresentar com um perfil mais questionador e contestador. Nesta nova fase, é como se a trupe chegasse no universo urbano com mais profundidade , como o cotidiano dos moradores de rua citados na canção “Cidadão de Papelão” ou a problemática da mecanização do trabalho, citada no “Mérito e o Monstro” entre várias outras abordagens. Indo mais além, há um debate sutil e, por vias opostas, mordaz, sobre o amontoado de informações que absorvemos, sem perceber, assistindo aos programas de TV. Essas transformações não poderiam, no entanto, encobrir o universo lúdico e fantasioso da trupe, mas sim, acrescentar uma pitada de realismo no conteúdo em geral, incorporando o lema de endurecer sem jamais perder a ternura.
É importante ressaltar que, após o assédio para que o coletivo finalmente se integrasse ao mainstream musical, assumindo uma grande gravadora, uma grande assessoria de imprensa, uma grande produtora etc, o Teatro Mágico preferiu ser conservador na inovação que trouxe ao mercado: organizar e fazer as coisas ao lado do seu grande incentivador, patrocinador e produtor: o público. Assim, o CD é vendido a preços populares e a distribuição das músicas é gratuita e livre pela Internet, com a diferença que desta vez, houve um investimento grande na produção dos fonogramas, comprovando assim, que mesmo no formato independente, é possível se fazer algo de qualidade e acessível.Trajetória:
Fernando Anitelli e Galdino Octopus
Fernando Anitelli, 35 anos, ator, músico e compositor, é o responsável pela criação do projeto “O Teatro Mágico”. Nascido em Presidente Prudente e criado na cidade de Osasco, São Paulo, Anitelli “brinca” com arranjos e melodias desde os 13 anos, “Quando vi que rimar amor com humor funcionava, não só na estética e na melodia, mas no sentido que aquilo tinha pra mim, nunca mais parei de fazer música”, revela.
As primeiras vitórias vieram logo cedo com prêmios em vários festivais dos quais participou com suas canções. A entrada na Faculdade de Comunicação Social lhe garantiu não só um diploma, mas também a formação da banda Madalena 19, que permitiu seu amadurecimento como músico. Foram quase dez anos de ensaios e apresentações de pequeno porte.
De lá para cá, Anitelli acumulou ainda a experiência como ator, trabalhando com diretores como Oswaldo Montenegro, Ismael Araújo e Caio Andrade, entre outros, que lhe deram as noções básicas de expressão corporal, domínio de palco e outros elementos vindos da escola do teatro, indispensáveis em seus shows.
Fernando AnitelliLígia MorenoEm 2003, Anitelli entrou em estúdio para gravar seu primeiro CD. O álbum recebeu o sugestivo título “O Teatro Mágico: Entrada para Raros”, numa referência ao best-seller “O Lobo da Estepe”, do escritor alemão Hermann Hesse. “Quando eu li sobre o Teatro Mágico do Hesse, percebi que era justamente aquilo que eu gostaria de montar: um espetáculo que juntasse tudo numa coisa só, malabaristas, atores, cantores, poetas, palhaços, bailarinas e tudo mais que a minha imaginação pudesse criar. O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível” conta.
Em cena, Anitelli revela uma expressão cênica incrível seja declamando versos, cantando ou fazendo performances. ” Quando estou no palco, faço questão de frisar que aquele ali sou eu, não é um palhaço ou outro personagem qualquer”.
O Teatro Mágico torna possível que cada um se mostre como é, que cada verdade interna seja revelada. Essa é a grande brincadeira, “ser o que se é, afinal todos somos raros e temos que ter consciência disso” , destaca. E assim, Anitelli vai traçando um paralelo entre o real e o imaginário enquanto o público, aos poucos, vai entrando na mesma freqüência sinestésica marcada pelo ritmo do espetáculo. No final, palco e platéia se fundem e cada um dos presentes vai descobrindo a delícia de se permitir ser um pouco mais de si mesmo.